O ator Fábio Assunção ganhou os noticiários nos últimos dias, depois de fazer um acordo com a banda La Fúria e com o compositor Gabriel Bartz para que os lucros recebidos com uma música que leva seu nome e faz alusão ao uso desenfreado de álcool e drogas seja destinado para instituições que tratam dependência química. Muito mais do que um ato de solidariedade, a postura de Fábio traz à sociedade um debate que precisa ser feito para se possa avançar na forma como se vê e se trata essa patologia que afeta mais de 200 milhões de pessoas. O diferencial de um caso que poderia ter sido de mera banalização do sofrimento do dependente foi o posicionamento do ator, que gera um saldo positivo para o episódio.
“A atitude de Fábio Assunção mostra
uma maturidade em querer mostrar que existe um problema que precisa ser visto e
cuidado de uma forma consciente. A dependência de álcool não é seriamente
debatida em sociedade. Esse episódio pode alcançar muita gente e também abrir
diversas discussões, levando esse tema à uma discussão mais qualificada e
profunda”, destaca o psicólogo e diretor técnico da Holiste Psiquiatria,
Ueliton Pereira.
O especialista comenta que a visão que a sociedade tem sobre o consumo de álcool é cheia de estigmas e frequentemente eles levam à marginalização, criando toda uma trama negativa para com o sujeito e a família.
“Falando em dependência química,
principalmente voltado para o álcool, tudo se torna muito mais delicado. Não
temos uma cultura de que álcool é uma droga e por isso se banaliza o excesso de
consumo dele. No caso dos memes e da música, foi uma forma de trazer à tona um
comportamento desenfreado e mostrar para o público. Acredito que se pegarmos a
música e trabalharmos em cima dela para falar sobre a problemática é muito mais
interessante e saudável do que proibi-la”, completa Ueliton.
O psiquiatra da Holiste Luiz
Guimarães chama atenção para os estigmas que atingem os adictos, que acabam
afetando a busca por ajuda especializada.
“O grande problema quando ouvimos
falar desse tema é que pensamos que as pessoas são fracas, são complicadas,
mentirosas ou necessariamente ladras. Em especial em relação à dependência
química, a reação das pessoas é sempre carregada de preconceitos. E na verdade,
existem patologias ligadas ao comportamento que precisam ser tratadas e o
próprio preconceito muitas vezes impede o tratamento adequado”, observa.
Ueliton opina que é preciso tirar a valorização pejorativa e assumir uma postura mais madura de querer falar sobre esse tema, pensar e construir novas possibilidades e meios de trabalhar com a dependência química.
Uliton Pereira – Psiquiatra
“Precisamos crescer e tirar
todos os tabus sobre todas as drogas. Acredito
que precisamos amadurecer intelectualmente, encarar que existe um problema que
não é a droga em si, mas o componente da compulsão que está presente em cada
adicto. Quando falamos em tratamento de dependência química, não estamos
falando que vamos tratar a droga, mas sim aquele sujeito que tem uma compulsão,
que não sabe lidar com limites, frustrações e várias outras questões que são do
campo emocional”, afirma. “Ninguém opta por
ser dependente. Só se torna dependente aquele que não consegue lidar com seus
limites e suas questões, e isso não é uma escolha”, complementa o psicólogo.